sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sob polêmica, 7 itens da PEC das domésticas esperam regulamentação


O Idoméstica tem recebido, por meio do seu site, consultas sobre as mudanças geradas pela aprovação da chamada “PEC das Domésticas”. A PEC entrou em vigor no dia 3 de abril, portanto, já superou um mês de vigência.
Porém, sete de seus itens esperam regulamentação para que possam ser aplicados. Diante disso, patrões se encontram com dúvidas sobre o que fazer.
Alessandro Vieira, coordenador do Idoméstica e do aplicativo PagDoméstica, afirma que medidas de atualização do sistema estão sendo adotadas pelo serviço. A atualização depende do governo, que vem discutindo com o Congresso Nacional a forma de regulamentar os benefícios.
Tão logo essa regulamentação seja definida, o Idoméstica disponibilizará os novos serviços aos assinantes. O site também tem mantido reuniões com especialistas em questões tributárias e trabalhistas para que as novas ferramentas estejam dentro da lei e, ao mesmo tempo, facilitem a vida de empregadores e empregadas domésticas.
A falta de regulamentação atinge sete itens (veja a lista abaixo). A PEC previa 90 dias para regulamentação, mas o governo e o Congresso Nacional pediam agilidade. Uma comissão foi montada no Congresso, envolvendo senadores e deputados. A comissão iniciou uma série de reuniões, das quais participaram representantes dos ministérios, INSS e Caixa Econômica Federal, mas os resultados não foram conclusivos.
Uma dúvida é a indenização gerada quando da demissão da empregada doméstica sem justa causa. Órgãos ligados ao governo defendem que o percentual seja o mesmo previsto para outras categorias – 40%.
Porém, congressistas dizem que esse número se mostra irreal, pois o emprego é gerado por famílias, e não por empresas. Daí membros da comissão defenderem multa de até 10% na dispensa sem justa causa.
A mesma justificativa atingiria outros benefícios criados com a PEC, sob a alegação, por exemplo, que uma família não tem à sua disposição um contabilista para realizar os cálculos – como há com as empresas.
Novos itens que esperam regulamentação
. Seguro-desemprego
. Indenização em demissões sem justa causa
. FGTS
. Salário-família
. Adicional noturno
. Auxílio-creche
. Seguro contra acidente de trabalho
Novos itens já em vigor
. Jornada de trabalho definida em oito horas diárias ou 44 horas semanais
. Pagamento de horas extras
. Salário nunca inferior ao mínimo (hoje em R$ 678, mas consulte aqui tabela dos estados com pisos regionais)
. Reconhecimento de convenções ou acordos coletivos
. Cumprimento das normas de higiene, segurança e saúde no trabalho.
Itens que já valiam antes da PEC
. Pagamento de salário mínimo ou piso regional (o que for maior)
. Carteira de trabalho assinada
. Recolhimento do INSS
. Repouso remunerado semanal, preferencialmente aos domingos
. Férias anuais remuneradas
. 13ª salário
. Aposentadoria
. Irredutibilidade dos salários (salário não pode ser reduzido, exceto em acordo coletivo)
. Licença gestante
. Licença-paternidade
. Aviso prévio
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sábado, 4 de maio de 2013

Matéria: Começou a onda de demissões


COMPORTAMENTO
|  N° Edição:  2265 |  12.Abr.13 - 20:40 |  Atualizado em 04.Mai.13 - 19:04

Começou a onda de demissões

Dispensas aumentam até 60% nos primeiros dias após a entrada em vigor da PEC das Domésticas. O Congresso já discute como desonerar os empregadores para que o custo de manter funcionários não pese tanto

Mariana Brugger e Wilson Aquino
"Albina, nem precisa trocar de roupa.” Foi assim que a doméstica carioca Albina Costa, 52 anos, foi recebida pelo patrão quando chegou para trabalhar na segunda-feira 1º, às 8h, como sempre fazia nos últimos oito anos. Na sequência, ele explicou: “Não posso mais te pagar por causa dessa nova lei.” Durante quase uma década, a profissional – que recebia R$ 802 e tinha carteira assinada – manteve a rotina de pegar ônibus e metrô de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, até o Flamengo, na zona sul. Cozinhava, lavava a roupa, arrumava a casa de quatro quartos e, às 15h, com o dever cumprido, fazia o percurso de volta. Agora, desempregada, se divide entre dois sentimentos: de um lado, acha que a chamada PEC das Domésticas, que estende à categoria os mesmos direitos já concedidos às outras desde a Constituição de 1988, trará benefícios. De outro, teme uma onda de dispensas, com razão. “A gente estima que o aumento de demissões chegou a 60% nessa primeira semana de lei”, afirma Luiza Batista Faria, presidente do Sindicato dos Empregados Domésticos de Pernambuco.
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Os números de Pernambuco impressionam: “Antes, fazíamos, no máximo, dez homologações diárias no sindicato. Nessa primeira semana em que a lei está valendo, chegamos a ter 25 rescisões de contrato num único dia”, afirma Luiza. Como a grande maioria das demissões de domésticas não passa pela entidade de classe, é impossível, neste momento, ter um número preciso da realidade nacional. Mas todos os sindicatos consultados pela reportagem de ISTOÉ acusam queda de empregos domésticos. “O normal eram duas, três dispensas por mês. Nos últimos 15 dias, foram dez”, atesta Neuza Alves Garcia de Almeida, presidente do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Niterói, na região metropolitana do Rio. Em São Paulo, de cada dez empregadas que procuraram o sindicato regional na semana passada, duas tinham sido dispensadas. “Em dois ou três meses poderemos saber se a nova lei causou muito prejuízo ao segmento de empregados domésticos”, avalia Fernando Holanda Barbosa Filho, pesquisador da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas. “Mas, com certeza, deve ocasionar mais informalidade.”
A desorientação e falta de entendimento por parte das famílias empregadoras repercute nos vários sindicatos dos empregadores domésticos. Em São Paulo, segundo a presidenta Margareth Galvão Carbinato, o número de atendimentos para informações pulou de dez para 50 por dia. “As patroas estão apavoradas”, diz ela. No Rio, saltou de 15 para uma média de 60. A advogada Evelyn Rosenzweig passou da fase do impacto para a ação. Fez os cálculos e decidiu dispensar o motorista. “A conta ficou alta para a família com a incorporação das horas extras”, justifica ela, que pagava R$ 1,7 mil por mês, mais benefícios. Se continuasse com o empregado, brevemente teria que fazer o recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), pagar adicional noturno e horas extras e indenização de 40% sobre o saldo do fundo em caso de dispensa sem justa causa. Agora, para o custo não pesar tanto no bolso dos empregadores, o Congresso discute como desonerá-los (leia quadro).
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"A conta ficou alta com a incorporação das horas extras"
Evelyn Rosenzweig, que demitiu o motorista e agora dirige o próprio carro
Para especialistas, a situação dos cuidadores de idosos é uma das mais complexas. De um lado, estão pessoas doentes e que vivem de aposentadoria. De outro, profissionais que trabalham 48 horas com 24 horas de descanso. “É a área mais delicada”, analisa o professor Claudio Considera, do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF). O aposentado Clemente Augusto Alves, 76 anos, sabe disso. “Minha ‘maravilhosa loura linda’ – que é como ele chama a esposa, de 74, que tem Alzheimer – precisa de duas cuidadoras, que fazem rodízio. Como vou arcar com os custos novos? Como vou pagar 40% de multa se tiver que demitir?”, indaga.
O que pode parecer problema individual é, na verdade, nacional, uma vez que o Brasil terá a sexta maior população mundial de idosos em 2025. “A lei não levou isso em consideração. Não podia ser dessa maneira, tinha que ser feita com mais cuidado e com o olhar voltado para o futuro. É apavorante”, afirma Maria Aparecida Guimarães, presidente da Associação de Parentes e Amigos de Pessoas com Alzheimer, Doenças Similares e Idosos Dependentes (Apaz). De fato, as clínicas e casas de repouso já acusam um aumento de 50% na procura por vagas, o que mostra a intenção de familiares de transferir seus pais e avós para um asilo. “Desde a PEC, foi um estouro de telefonemas. Em números gerais, pode-se dizer que o aumento da procura foi de 50%”, disse Valdemir Lopes, diretor-executivo da Associação Brasileira das Casas de Repouso (Abracari). Esta é a nova realidade do Brasil.
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Colaborou Natália Mestre

Matéria: A bomba-relógio no trabalho doméstico


COMPORTAMENTO
|  N° Edição:  2263 |  28.Mar.13 - 21:00 |  Atualizado em 04.Mai.13 - 18:54

A bomba-relógio no trabalho doméstico

A PEC aprovada no Congresso corrige injustiça histórica, mas equipara cidadãos a corporações ao onerar o empregador. É preciso reduzir os encargos para não ampliar a informalidade e provocar demissões

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MAIS CARO
O custo de manter uma babá poderá subir
até 60% com o pagamento de horas extras
Foi uma semana rara no Senado. Por unanimidade, na terça-feira 26, os senadores aprovaram, em segundo turno, a Proposta de Emenda à Constituição que amplia os direitos dos empregados domésticos. A chamada PEC das Domésticas concedeu a esses trabalhadores os mesmos benefícios devidos aos demais desde a Constituição de 1988. A partir da próxima semana, quando as novas regras entram em vigor, todo patrão terá de pagar hora extra e respeitar o limite de jornada de trabalho semanal de 44 horas (leia mais à pág. 52). Embora o objetivo da medida seja louvável – eliminar uma injustiça histórica, resquício do nosso vergonhoso passado escravagista –, os parlamentares, na prática, equipararam os patrões a corporações. A classe média, já acuada com gastos com mensalidade escolar, plano de saúde e segurança, passou a semana fazendo contas. Os custos de manter um funcionário vão subir muito, de 21% a 60%, segundo cálculos de especialistas ouvidos por ISTOÉ, e vão pesar, sobretudo, para quem precisa de babá ou de cuidador de idosos. As consequências são muitas. A delicada relação entre empregador e empregado, construída com grande dose de informalidade, passará por um teste de fogo diante da exigência de uma profissionalização repentina, como a necessidade de controlar o ponto ou a previsão de pagamentos como seguro contra acidente de trabalho, por exemplo. A médio e longo prazos, o País passará por uma profunda revolução em sua sociedade.
De imediato, a PEC deve ter um efeito perverso justamente sobre o grupo que pretende beneficiar. Com o aumento dos custos, a informalidade tende a crescer e os patrões podem resolver abrir mão desse trabalhador. As agências já detectaram um interesse súbito por diaristas. Uma pesquisa recente feita pela ONG Doméstica Legal com 2.855 empregadores mostrou que, com a aprovação da PEC, 85% deles estavam dispostos a demitir funcionários. Extrapolando para o País, seriam 815 mil demissões, ou 12,2% do total de 6,7 milhões de domésticos em atividade hoje no Brasil. As estimativas do impacto da PEC na formalização do emprego no setor também não são animadoras. Segundo cálculos do presidente da ONG, Mário Avelino, a informalidade, que hoje está em torno de 70%, deve chegar a 82%. Para trabalhar fora, muitas domésticas também contratam, informalmente, babás para tomar conta de seus filhos. Dificilmente eles poderão arcar com as despesas previstas na lei.
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A questão não é se os domésticos devem ou não ter direitos trabalhistas, mas a forma com que isso está sendo feito. “A emenda exige do assalariado o que só se exige de uma empresa”, afirma Arnaldo José Mazzei, professor de sociologia do trabalho da Faculdade de Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Por isso, é preciso que o Estado divida com o empregador de classe média, que não é uma empresa geradora de lucro, parte dos custos de incluir esses profissionais no sistema de proteção social. O poder público tem de promover compensações em favor da pessoa física, desonerar o cidadão empregador. Uma proposta é reduzir a contribuição patronal do INSS. Também é necessário desburocratizar o recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que era opcional e passa a ser obrigatório. Hoje, quem quer registrar um funcionário encara uma via-crúcis e é obrigado a adquirir um certificado digital no valor de R$ 110. Além disso, quando a legislação muda para as companhias, é comum que elas tenham meses para se adaptar. No caso da PEC, que afeta apenas pessoas, o prazo praticamente inexiste. Uma semana separa a aprovação da entrada em vigor da lei, embora vários direitos, como o próprio FGTS, ainda precisem ser regulamentados. Alguns, porém, como o auxílio-creche, chegam a ser esdrúxulos. Hoje, esse benefício é devido apenas por empresas que têm mais de 30 funcionárias com idade superior a 16 anos. Como a regulamentação irá adaptar essa regra à realidade de uma casa onde há apenas uma empregada?
“Os próximos meses serão de muita conversa e renegociação com as domésticas”, diz Ana Cristina Limongi França, professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) especializada em gestão da qualidade de vida no ambiente de trabalho. “Serão conversas incômodas tanto para as patroas quanto para as empregadas.” Afinal, embora existam muitos empregadores que ignorem os direitos já devidos e não valorizem o trabalho doméstico, há também os que cultivam relações próximas, quase fraternais. Não descontam a parte do empregado do INSS nem vale-transporte, adiantam salários, pagam cursos e concedem empréstimos sem cobrar juros. É um funcionário com situação peculiar. Que empresa fornece alimentação sem custo? Na maioria das casas, as domésticas têm, sem pagar nada, ao menos as três refeições (café da manhã, almoço e jantar). Que companhia permite que o controle de ponto seja exercido pelo próprio trabalhador? As relações trabalhistas no Brasil têm de ser modernizadas, flexibilizadas. Cada segmento deve ser tratado de forma condizente com a realidade da sua profissão. A PEC, porém, apoia-se na anacrônica CLT. Agora, o relacionamento entre patrão e empregado tende a endurecer, o que traz benefícios e prejuízos para ambos os lados. A jornada de trabalho definida é uma garantia para a doméstica, mas, do ponto de vista do empregador, essas horas precisarão render mais do que nunca. “A capacitação das profissionais do setor, ignorada por muito tempo, deve voltar a ser exigida”, diz Ana Cristina, da USP.
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Num futuro próximo, ter um funcionário doméstico no Brasil será um luxo. Esta nova realidade trará grandes mudanças sociais. “Nas famílias de classe média com filhos, a ausência da empregada forçará um grande rearranjo de funções e responsabilidades”, diz Noêmia Lazzareschi, professora de sociologia da PUC-SP especializada em trabalho. Em lares onde marido e mulher trabalham porque dispõem de uma babá para cuidar das crianças, é possível que um dos dois tenha de abrir mão da profissão para dar conta dos filhos e da casa. Matriculá-los em uma escola ou creche em período integral pode ser uma opção, mas também vai pesar no bolso, pois o valor da mensalidade sobe 80%. “Mesmo com o preço mais alto, já recebi três mães apavoradas com a PEC procurando vagas”, diz Marina Barreto, presidente da Associação Brasileira de Ensino Infantil (Asbrei) e dona de uma escolinha no Rio de Janeiro. Como a mudança é súbita, muitas instituições, hoje, não têm vagas disponíveis. Mas é um imenso mercado que se abre. Marina espera um aumento generalizado na procura por esse tipo de serviço e aposta que as escolas e creches irão se preparar para atender à nova demanda. Com tantos custos, a opção pelo filho único deve ser cada vez mais comum. Outra mudança que se avizinha é a forma de cuidar dos idosos. Asilos e casas de repouso irão entrar no radar de quem não tem condições de arcar com um cuidador.
Aos que ainda acham a comparação das despesas com escola integral e casa de repouso com o custo de manter um funcionário doméstico exagerado, vale lembrar que o salário nesse segmento cresce, de maneira praticamente ininterrupta, há dez anos. Nos últimos 12 meses, o custo dessa mão de obra aumentou 11,83% e a inflação, no mesmo período, foi de 6,31%. Nas grandes capitais, onde a formalização é maior – em São Paulo 38,7% são registrados e em Belo Horizonte, 49,9% –, os salários de domésticas começam em R$ 1 mil e de uma babá em R$ 1.500, segundo agências de empregos. E ainda assim o número de profissionais disponíveis cai, enquanto a idade média delas sobe. As filhas das empregadas estão tomando outro rumo profissional.
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Para os mais otimistas, logo estaremos próximos da realidade dos Estados Unidos ou da Europa. Essa ideia embute alguma ingenuidade. Nesses lugares, a vida se organizou, durante décadas, para que as coisas funcionassem dessa maneira. Nos Estados Unidos, por exemplo, pais que trabalham e têm filhos dispõem de uma ampla rede de creches públicas, sistema de transporte eficiente e legislação trabalhista flexível. Lá, quando a criança adoece, o pai pode até pedir dispensa no trabalho. Não será uma canetada, ainda que bem intencionada, dos nossos parlamentares que reproduzirá aqui o que levou gerações para se estabelecer nos países desenvolvidos. É o começo para uma sociedade mais justa. Mas é preciso uma efetiva parceria entre Estado e empregador, como já acontece nas pequenas empresas, para que todas as domésticas passem a fazer parte da rede de proteção social.
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Fotos: Dado Galdieri/Bloomberg via Getty Images; F.L PÌton/A Cidade/Futura Press